O Atlético-MG é o melhor favorito que o Brasileirão 2015 pode oferecer. Créditos: Bruno Cantini/Divulgação Atlético-MG |
Os demais times postulantes ao cargo apresentam poréns tão grandes quanto os do Cruzeiro. Para cada requisito credenciador à elevação ao posto "favorito", um calcanhar de Aquiles. O mais promissor deles, com 13 rodadas de campeonato, é o líder Atlético-MG; que também não passa pelo teste do favoritismo.
A equipe mineira tem no ataque a grande arma — não por coincidência, o melhor do campeonato até aqui, único com média de mais de dois gols por partida: 28 em 13 jogos. Tal marca se explica quando observada a grande movimentação dos quatro (ou cinco) jogadores da frente, todos leves e/ou com qualidade para participar da construção das jogadas. Sendo que esses quatro ou cinco com tais qualidades são apenas os jogadores do time titular: no elenco, são pelo menos oito desses: Pratto, Giovanni Augusto, Luan, Thiago Ribeiro, Dátolo, Guilherme, Carlos e Dodô.
Os “poréns” começam quando se lembra do principal nome do time nesses primeiros jogos: Thiago Ribeiro, o artilheiro do time com seis gols, é o mesmo que saiu chutado e desacreditado do Santos no começo do ano. É arriscado acreditar que esses jogadores que fazem o melhor futebol praticado no País no momento manterão o ritmo nas 25 rodadas restantes; nenhum é craque. Não dão certeza da dissipação daquele que foi o principal problema do time em muitos momentos dos últimos dois anos: a falta de repertório de jogo quando não funcionava a combinação de velocidade e pressão. A grande variação de jogo apresentada pelo Galo em tais situações era a bola parada, sobretudo, para os zagueiros.
É pouco para quem quer ser campeão em um País onde muitas equipes ficam bastante confortáveis abdicando da posse da bola — mais que isso, gostam de tal situação, defendendo-se atrás da linha da bola e saindo em contra-ataques. O Galo pode perder pontos valiosos em confrontos contra as Chapecoenses e Goiáses da vida — e mesmo contra os rivais pela taça, já que tal pragmatismo defensivo é comum também na parte de cima da tabela. Piora a situação quando se vê que as contusões são constantes no elenco atleticano, carecendo as inovações via substituição.
Da esperança do brilhantismo à esperança do pragmatismo
Da esperança do brilhantismo à esperança do pragmatismo
O Corinthians dos inícios do Paulista e da Libertadores só existe em sonho agora. Créditos: Marcos Ribolli/Globo Esporte |
O Corinthians, assim, seria o principal postulante a suplantar tal cargo. No entanto, é preciso lembrar que se trata de um grande retrocesso ao time de melhor futebol no País no começo da temporada ser a segunda opção. O Corinthians dos golaços e dos domínios sobre os adversários não existe mais. E não conseguiu resgatar o eficiente pragmatismo dos últimos times de Tite. As eliminações no Campeonato Paulista e na Taça Libertadores mostraram isso. Nessas eliminações, a equipe ainda contava com os hoje ex-jogadores Fábio Santos, Emerson Sheik e Guerrero. Portanto, a perda de jogadores é um dos “poréns” que vacilam a categorização inconteste do Corinthians como favorito; está, sobretudo, na falta de variabilidade tática e estratégica de Tite a impossibilidade de tal qualificação. Após o efetivo 4-1-4-1 do início da temporada mostrar limitações, o treinador corintiano não apresentou nenhuma alternativa. Somente após as eliminações — que se mostravam previsíveis nas más atuações das últimas rodadas do Paulista — e após o vacilante início de Brasileiro, o time pareceu ter cultivado um fôlego para pleitear o troféu — mas não para ser um favorito unânime. O time recuperou um pouco do pragmatismo do Tite de 2010-1013, não o brilhantismo do início do ano. Faltam as tabelas rápidas nutridas pelas incessantes movimentações de até sete jogadores; sobram as dependências das inconstâncias individuais. Elias, Jadson e Renato Augusto, os grandes responsáveis por essas individualidade, conseguem bons coelhos das cartolas; resta saber se em grande quantidade. Dentro da estratégia pragmática, ainda falta a solidez defensiva e frieza do time de 2012, por exemplo, que davam ao torcedor uma incrível sensação de segurança quanto ao placar.
Favoritismo sui generis
O São Paulo é um favorito a este campeonato da mesma forma que foi do último: uma combinação entre qualidade de alguns de seus jogadores e falta de concorrência. Em 2014, foi, por muito tempo, o único rival visível ao Cruzeiro, mas acabou com uma segunda colocação confortável — tanto por não ser ameaçado pelos de baixo, quanto por não ameaçar o de cima. De lá para cá, segue o técnico sem conseguir padrão de jogo que possa adequar os bons jogadores aos ruins e inconstantes. Sendo que nesse ano, a primeira dessas três categorias encolheu frente às outras duas, com as saídas de Souza e Kaká, e a definitiva transição de “inconstante” para “ruim” de Ganso. Atualmente, pode-se qualificar como bom sem vacilações apenas Michel Bastos. Ele se soma aos inconstantes Rogério Ceni, Rodrigo Caio, Thiago Mendes, Centurión, Pato e Luís Fabiano; e aos ruins zagueiros, laterais e volantes à exceção de Hudson. Sendo que são comandados por um técnico novo e sem experiência nacional, que chega após “desperdiçar” os jogos de adaptação — além daqueles em que Milton Cruz foi o comandante. Esquema táticos e jogadores ainda não consolidados resultaram em alguns pontos perdidos: podem fazer falta no final. O quadro suficiente para se manter na parte de cima da tabela de um campeonato como o Brasileiro, mas não como favorito ao título.
Sim, o Palmeiras está favorito e por ter um bom elenco. Créditos: Rivaldo Gomes/Folhapress |
No começo do ano, seria um devaneio citar o Palmeiras em um texto que procura estabelecer favoritos ao título do Brasileirão. Já no começo do campeonato, seria apenas equivocado. Hoje, com Marcelo Oliveira, já é aceitável. O farto elenco ainda o é mais por causa das muitas peças do que da existência de grandes jogadores. Mas, ainda assim, há boas peças, que, ao dar diversas opções ao treinador, tornam o time competitivo, até por proporcionar a saudável concorrência interna — talvez, a zaga seja o único lugar onde isso não aconteça. O time está pronto; não é brilhante, mas qual é? Nessa confusão de perdes-e-ganhas, qualquer equipes melhor arrumada pode sobressair-se. E o Palmeiras de Marcelo Oliveira esboçar ser uma dessas.
O único brasileiro ainda vivo na Libertadores, o Internacional, deveria constar como candidato ao título, certo? Não, sabendo que uma equipe não é campeã da Libertadores e do Brasileirão em um mesmo ano desde a introdução dos pontos corridos. E, mesmo sem ser campeão, o Inter já perdeu vários pontos — o aproveitamento colorado é de apenas 41%. Mas, diferentemente de outras equipes que dividiam atenções nas duas competições, as explicações para o baixo aproveitamento não estão apenas na divisão de foco. O Inter vem jogando mal. O elenco não é brilhante, apesar dos muitos nomes conhecidos, parecendo estar fazendo uma grande Libertadores muito por causa do foco. Nas “vulgaridades” dos jogos do eclipsado Brasileiro, o time não entra com a faca entre os dentes necessária para fazer superar as limitações do plantel.
Não briga por título quem depende dos gols de André e do futebol de Maikon Leite e Marlone. Créditos: Paulo Paiva/Diário de Pernambuco |
Observando a tabela às vésperas do início da 14ª rodada, vê-se Grêmio, Fluminense e Sport entre os sete primeiros colocados, a duas vitórias de distância da liderança. Não estão colocados neste texto como favoritos ao título pois não devem manter tal ritmo. São times que já surpreendem estando nessas posições a essa inicial etapa do campeonato; portanto, estariam causando espanto ainda maior se melhorassem de classificação ao término da 38ª rodada. Como se viu, o cenário não é de fortes e seguras equipes, e, portanto, a manutenção de uma dessas três equipes nas primeiras colocações não é improvável. Mas título sim, é.
Portanto, deve ficar entre Galo e Corinthians o título brasileiro deste ano? Entre o time que tem Thiago Ribeiro como melhor jogador e o time que perdeu pro combalido Santos chutando cinco vezes ao gol. É, não é possível dar uma resposta definitiva. Talvez, na 37ª rodada já seja possível.